#tbt
1995. A gente surtaria se alguém falasse em plataforma de streaming, internet, etc.
O CD, bem verdade, já existia, mas não estava ainda tão popularizado entre nós. Naqueles tempos, as tecnologias demoravam um pouco para ficarem mais acessíveis. Nossa praia ainda era o vinil e, mais ainda, as fitas k7s.
Eram os tempos áureos do Laboratório do Rock. Ambiente, localizado aos fundos da oficina eletrônica de meu pai, onde periodicamente, eu, Marcílio Cerqueira e Sérgio Cabelera, ouvíamos rock and roll.
O local, vez por outra, também era frequentado por “graduandos” do rock em “iniciação científica”. Joel Gomes, Eloi Cerqueira, Luciano Santana, Tadeu Melo, Thiago Melo, Betinho Fotos, Júnior Punk…
Naquele Laboratório, o experimento era a mistura musical. A gente ouvia diversos segmentos do rock. Heavy, Trash, Punk, Death, Pop, etc.
Não tinham acesso a internet e o nosso principal meio de informação acerca das novidades rockeiras eram as revistas mensais, a exemplo de Rock Brigade, Bizz e Top Rock.

(Da esq para dir) Sérgio Cabelera, Roberto Martins e Marcílio Cerqueira, o power trio, base do Laboratório do Rock – Reprodução acervo Laboratório do Rock
Classificado
Foi numa Rock Brigade, se não me engano, onde foi encontrado um anúncio da Zona Abissal, uma banda de Heavy Metal de Salvador.
Achamos o nome interessante. E gostamos ainda mais quando, depois de recorrer ao dicionário, soubemos o significado do nome:
“diz-se de região correspondente às grandes profundidades dos oceanos e lagos ou do que é formado a grandes profundidades na terra.”
(esse aí é do Google, confesso).
Mandamos uma carta. Nos apresentamos, falamos do Laboratório e da nossa vontade de fazer um show de rock em Irará.
Para nossa surpresa, eles responderam a missiva.
Além de uma carta, mandaram mapa de palco, condições de contratação, lista de camarim e uma fita demo.
“Kill and Die”, datava de 1993 e, imagino, era o primeiro trabalho dos caras cantando em inglês. Quatro músicas: 1 – The last life; 2 – He passed away; 3 – Kill and die; 4 – Full of desire.
Ficamos muito empolgados com a atenção recebida. Então começamos a pensar e discutir possibilidades de fazer o show em Irará. Conversamos com algumas pessoas, como Victor de Rodão, e sondamos alguns lugares, mas nada pôde ser efetivado.



Telegrama, carte e Demo em K7 do Zona Abissal – Reprodução Acervo Laboratório do Rock
Oportunidade
Algum tempo depois, quando já não tínhamos lá tantas esperanças, soubemos que a cidade iria receber um show de Edson Gomes.
Já era 1996, o reggaeman estava na crista da onda na Bahia. Além de ter a característica de conseguir furar a bolha do axé/pagode, havia pouco ele tinha lançado “Resgate Fatal”. Disco de grande sucesso, talvez aí já pegando uma carona nos primórdios da popularização do CD.
Quando soubemos quem iria produzir o show, a esperança cresceu.
Ademário Paes Coelho, servidor público e locutor, se firmava como produtor de grandes eventos festivos privados em Irará. Já havia levado para a cidade nomes da época como Gera Samba (depois É o Tchan), ainda com Carla Peres; Timbalada; e Olodum.
Além disso, no currículo o produtor tinha a realização de um Festival de Rock. O evento, acontecido em 1990, quando Ademário estava à frente da Casa da Cultura de Irará (CCI), atraiu alguns metaleiros e punks da região.

Desejos
Com grande empolgação fomos conversar com Ademário. Falamos da banda, mostramos o material. Argumentamos da proximidade do rock com o reggae. Ele ouviu atentamente, concordou conosco em alguns pontos e prometeu pensar sobre o assunto.
Só nos restava aguardar. E aguardamos. A espera não tardou, mas falhou. Algum tempo depois vimos os cartazes do show de Edson Gomes. A banda Evolução Contínua, como abertura, e acho que algum outro grupo (talvez de pagode, já não lembro agora) no encerramento.
Foi uma decepção. Por não ter Zona Abissal e por não receber qualquer resposta. Lembro que fiz meu protesto particular e não fui ao show de Edson Gomes. Hoje eu sei: só quem perdeu fui eu.
Diante daquela demo e relendo a carta do Zona Abissal, o tempo me diz que aquela tentativa já tem 25, 26 anos…
Na minha memória de #tbt não tinha isso tudo, mas quem sou eu pra contestar o “tempo rei”. Só digo a esse “senhor tão bonito”, “compositor de destinos”, aqui dentro ainda há espaço para um “teen spirit” rock and roll, com muitos desejos abissais.
Zona Abissal faz cover do Iron Maiden, no palco do Rock, Carnaval de 1994

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