O cantor Ney Matogrosso fez dois shows em Salvador neste fim de semana. Pelo que vi e pelo soube foi casa cheia nos dois dias. Sexta, 29, e sábado 30.
Posso falar pela sexta, dia no qual estive presente. Ney deixou a plateia em êxtase.
Foi um daqueles shows no qual você sente a força do acordo tácito entre artista e público.
Pude ter certeza disso, quando me atrevi ir ao sanitário e buscar cerveja. A breve saída não seria permitida em uma sala de teatro e me foi quase impossível na Concha Acústica do TCA.
Lotado
A lotação do espaço era um inconveniente. Os degraus da escada de acesso até a parte de cima viraram complemento de arquibancadas cheias. Público com olhos e atenção total ao palco.
Ao chegar ao banheiro e depois ao bar, a impressão foi confirmada. Ambos estavam vazios, afinal, só alguns gatos pingados conseguiram, ainda que por um instante, fugir ao transe de Ney.
No palco, um ícone revolucionário da MPB vestido de dourado, aos 84 anos, fazia das suas. Além da voz, da banda, das luzes, etc, a típica performance de Matogrosso era puro encanto.
O público vibrava uníssono a cada trejeito mais ousado do cantor.
Repertório
Se eu não me engano, justo na frase “mas seu eu me abrisse assim”, de “Pavão Misterioso”, apoiado em cadeira de pernas alta, Ney abriu o ziper frontal do roupa até a altura do umbigo… para milhares de “uhru” ensurdecedores.
Raras exceções, como “Balada de um Louco”, “Pro dia Nascer Feliz” e “Poema”, o repertório seguiu a ordem do álbum “Bloco na Rua”, o mais recente lançado por Ney. Por isso o público sentiu falta de algumas canções como “Homem H”.
Mesmo fora do repertório, essa composição de Gonzaguinha não deixou de aparecer naquela noite. Em coro e à capela, “Homem com H” era um pedido de bis, embora Ney, em um dos raros momentos de fala ao público, já tivesse avisado que não faria a mise en scène de ir ao camarim e para fazer um retorno triunfante.
Mas um show bom é assim mesmo. Sempre deixa um gosto de quero mais, ainda que ultrapasse o tempo regulamentar.
Roberto Martins 
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