Fake news! Alguém largaria esse anglicismo em 1996, caso o termo já fosse popularizado naquela época.
Eram tempos de eleições municipais.
Na política, a gente sabe, criar falsidades (“fakes”) para atacar adversários precede Maquiavel.
E naquele ano, em Irará, não seria diferente.
Lembranças
Outro dia estava conversando com um querido amigo vítima de notícias falsas naquelas eleições.
Rimos do episódio e ele até me confessou desconfiar de quem teria criado a tal fofoca.
Como era uma época sem deep fake, montagens de imagens, inteligência artificial, etc, a mentira corria com tradicional boca-a-boca e imaginário popular.
Era o tal do “telefone sem fio” no burburinho, nas mesas de bar, nos palanques.
Como hoje, quem estava cheio de pós-verdades e tendia a não simpatizar com aquele candidato logo acreditava e espalhava o fake. Outros tantos seguiam na dúvida.
“Será?”
1996
O fake em questão, no caso das eleições municipais de Irará de 1996, acusava um candidato de boçalidade (mitidez).
Talvez alí uma maneira de tentar impedir o sucesso eleitoral do então jovem rapaz. Ele vinha escalando cargos eletivos e postos importantes na política da cidade e pela primeira vez se lançava ao executivo.
“Ele é boçal, é metido, filho de mamãe. Não gosta de povo”, atacavam.
A prova?
“Ele anda com uma garrafa de álcool no carro. Depois de apertar a mão do povo, lava logo as dele”.
Não havia um vídeo, uma foto… nada. Caia na cabeça das pessoas e “o povo” tratava de espalhar.
Lembrei do fato outro dia. Aí, com licença Sr. Kubrick, como uma espinha de peixe jogada ao ar por um bebê, cortei para estes tempos pandêmicos de 2019 a 2022.
Vejam só: Lavar as mãos com álcool, então taxado como símbolo de boçalidade, hoje é um rito higiênico necessário e quem sabe quase tão vital quanto a água.
Reflexão
É uma daquelas situações na qual refletimos sobre os tempos, torcemos pelo surgimento de um desinfetante para fake news e desinformação e cantamos com Jorge Ben Jor…
“Água de beber, água de benzer
Água de banhar
Alkahool só para desinfetar”
Leia também:
Mais um texto sobre comportamento eleitoral em Irará.
NdoR: No dicionário, a palavra “boçal” significa: Algo ou alguém privado de inteligência; estúpido, ignorante. No entanto, no linguagem popular iraraense, tem mais o sentido de “presunçoso”, “metido a rico”, “tirado”. E esse foi o sentido utilizado no texto.
Imagem: cottonbro no Pexels
Roberto Martins 
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