Tempos sombrios os atuais, quando a turba ataca até a mãe.
Meu pai já me dizia:
“O povo é um corpo sem cabeça. Jesus faz uma pregação, o povo aplaude. Na sequência, Lúcifer fala o contrário e também é aplaudido.”
O grupo chamado por meu pai de “povo”, prefiro reconhecer como “turba”.
Povo é o conjunto de pessoas de uma nação, com costumes e tradições em comuns.
Por outro lado, “turba”, ao meu ver, é a claque. A saber, aqueles mais suscetíveis ao populismo, dispostos a aplaudir todo dito do ídolo. Não importa o dito.
(Como dito, para fins deste texto, “a meu ver”, embora esteja próximo ao sentido do dicionário)
A turba, ainda considero, pode mudar de posição facilmente ao sabor da maré. Embora hoje seja fã de um polo, amanhã já adora o outro sem qualquer constrangimento.
Tradição
Escrituras antigas, como a bíblia, já sinalizavam a existência de turbas. Podemos dizer que, impaciente e sem fé, a turba fez um bezerro de ouro e assim ofendeu a Moisés e a Deus.
Uma turba é como a turma do bullying na escola. Ela costuma ter disposição para zombar de todos e de tudo.
Tudo, vírgula. A mãe, por exemplo, era uma rara exceção. A genitora sempre foi algo sagrado. Uma instituição respeitada e considerada. Dessa forma, ofender a mãe era um dos limites entre a gozação e a briga.

Até o bullying da escola tinha limites de respeito | Foto: Rawpixel.com / Freepik.comUma vez li, em um livro introdutório, uma afirmação a justificar a então resistente existência da filosofia como disciplina.
A filosofia, argumentava o livro, só era (olha o tempo do verbo… “era”) mantida no currículo escolar por ser mãe do conhecimento. Naturalmente, costumava-se respeitar quem lhe bota no mundo.
Assim como a filosofia, a ciência e a cultura costumavam ter status de mãe.
Quando a pessoa não entendia ou não conhecia bem o assunto, ela respeitava quando alguém dissertava sobre.
Era como um acatamento à própria genitora. Como quem dissesse: “Ela sabe mais do mundo, tem mais experiência e conhecimento do que eu”.
Desrespeito
Agora, a julgar por acontecimentos recentes, tudo mudou. Atualmente a turba não respeita nem mesmo as mães. Ao contrário, xinga, ofende, maltrata.
Atacam uma genetriz com modos desprezíveis, a ponto de fazer corar um torpe machista em agravo a uma meretriz.
Os detratores de mães, se consideram autossuficientes demais. Em outras palavras, se acham “sabe tudo” até mesmo quando não sabem. E, finalmente, quando percebem não saber, partem para a agressão.
A turba agora só se interessa pela sua própria realidade, pela sua versão dos fatos, creditam certezas em informações “diz que”, ou ainda, em versões criadas por ídolos.
Imagino-a como os miseráveis para quem Cazuza cantou o Blues da Piedade.
Com as devidas adaptações, posso dizer: “não sabem pensar, ficam esperando um discurso que caibam nos seus sonhos”.
Pesadelo
Os devaneios da turba quase sempre são medonhos e cheios de ódio e ignorância. Talvez eles se retroalimentem e, consequentemente, se espalhem “como varizes que vão aumentando, como insetos em volta da lâmpada”.
Pobre das mães da civilização. A filosofia há muito desrespeitada, a cultura também relegada e até mesmo a ciência. Quem diria, a ciência…
A pandemia nos traz também esta percepção como resultado. A ciência, portanto, está sob forte ataque da turba.
A turba ataca até a mãe. E, apesar de tudo, a gente ainda precisa pedir piedade para quem integra a turba dos detratores.
Imagem de destaque: Amine M’Siouri on Pexel

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