Já faz alguns dias, mas o som ainda ecoa. O verbo reverbera. Pelo telefone, pela internet, via msn, e-mail e orkut. Alguns amigos me relataram, mas custo a acreditar.
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Quem acompanha este Blog deve ter lido o texto “Enfim, o calçamento da Rua 08 de Agosto”. Nele, era noticiada a obra de pavimentação da via e também feito um elogio ao prefeito Juscelino Souza (PP) pela realização. Só para lembrar: “um pequeno trecho de rua a ser calçada, mas que os outros governos não tiveram a sensibilidade de fazê-lo”, dizia o texto.
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Pois bem. A obra foi feita, mas causa estranheza o episódio da inauguração. Ainda reluto em acreditar no que os amigos me contaram. Não é possível. Dizem que foi realizado um grande evento pela inauguração de tal obra.
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Como não me foi possibilitado ver pra crê, peço às pessoas que, por ventura, lerem este texto e que estavam em Irará, comente-o, confirmando ou desmentindo as informações a mim transmitidas.
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A primeira foi de que o Sr. Prefeito decretou feriado no dia da inauguração, ocorrida na mesma data que empresta o nome à rua. Não me recordo disto acontecer nos anos anteriores. Apesar do 08 de Agosto marcar a elevação de Irará à condição de cidade desde 1895, acho que o dia nunca havia merecido decreto, para a suspensão dos trabalhos escolares e/ou fechamento do comércio. .
Em sendo a data um feriado a partir de agora, Irará terá três feriados municipais. O 02 de Fevereiro, dia da Padroeira; o 27 de Maio, emancipação política; e o 08 de Agosto, elevação á condição de cidade. Juntando-se os estaduais, nacionais e religiosos, a cidade deve entrar pro guinnes, no tópico das localidades que mais têm “dias inúteis” no mundo.
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Depois me contaram que foi organizada uma grande lavagem. Com direito a baianas, charanga e tudo mais. Estranho! Lavar o que? Se a rua acabava de ser pavimentada, deveria estar novinha em folha. E, ao que me consta, diante do pequeno trecho calçado (cerca de 300m), não deve ter havido necessidade de licitações para contratação de grandes empreiteiras.
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E também disseram que foi a maior festa, com a presença de um mine-trio e uma banda musical. Aí protestei: “Gente! Isso não é festa! É projeto.”. Sim projeto. O qual chama-se: “Terça na rua”. É só o leitor lembrar da campanha do nosso ilustre Prefeito.
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Durante o período eleitoral de 2004, o então candidato Juscelino e toda a sua comitiva, visitaram várias localidades do município mostrando os seus projetos para a população. Tinha o “Domingo na Roça” – palco, banda de arrocha e discurso; na zona rural. O “Sábado no Bairro” – palco, banda de arrocha e discurso; numa área próxima ou na sede do município. E o “Sexta na Praça” – palco, idem, idem; na Praça da Purificação.
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Agora que o grupo – ou parte dele – está na prefeitura, nada mais natural do que querer completar a semana. Além do “Terça na Rua”, deve vir por aí: O “Segunda na Esquina”, o “Quarta no Beco” e o “Quinta na Avenida”.
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Mesmo que ainda não tenha completado o ciclo, o prefeito Juscelino (PP), com os seus projetos e – ao que parece – inaugurações, já fez por merecer a simpática alcunha de Jú Festinha. Alguns assim o apelidaram em referência a outro prefeito, que a todo ato público, organizava a festa e levava convidados especiais.
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Aparições ilustres na inauguração da obra da 08 de Agosto também não faltaram. Presenças como a da gloriosa Filarmônica 25 de Dezembro e do músico iraraense Gigi, filho de Alfredo da Luz e baixista da banda de Ivete Sangalo, me foram igualmente relatadas. Não faltaram também os discursos.
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Ainda segundo as informações transmitidas, o Prefeito apresentou um dos seus motivos para ter calçado aquela rua. É que ali reside Dona Caboquinha, a pessoa que faz o licor que ele – Juscelino – leva para a governadoria, toda vez que vai falar com o governador Paulo Souto (PFL).
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Segredo revelado, agora falta saber de onde se origina a farinha e o litro de mel. Foram estes três itens (licor – farinha – mel) que o atual prefeito, na sua campanha de 2000, prometeu em praça pública que levaria ao governante toda vez que fosse visitá-lo, “e assim trazer as obras que irará precisa”.
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As estórias foram tantas que naquele final de manhã de terça, ao ouvir alguns foguetes aqui em Salvador, pensei que o som tivesse vindo da inauguração iraraense. Aí um entusiasta da vitoriosa e esperançosa campanha eleitoral do prefeito em 2004, me disse que deveria ser a inauguração da “Rua 04 de Agosto”.
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Na versão dele, a 08 de agosto já era pavimentada em sua metade. Ou seja, do trecho do Banco do Brasil até o bar de D. Luisa. Portanto, a Prefeitura teria calçado apenas a “04 de agosto”, que se refere a outra metade da rua, a qual vai do Bar de Dona Luisa até pouco depois da Delegacia de Policia.
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Mesmo sendo obra pela metade e que tenha acontecido comemoração por inteiro, vale algumas ponderações. Poucos dias antes da dita inauguração, passei perto da Rua 08 de Agosto, e percebi a feliz iniciativa da Prefeitura em ter plantado árvores na rua. Pena que não colocaram as mudas na calçada, mas sim embaixo, na rua mesmo, o que pode trazer problemas se as árvores conseguirem vencer as adversidades e crescerem fortes.
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Quanto a isso, outros me fizeram queixas da espécie da árvore plantada e dos níveis da rua também. Mas prefiro não comentar. Não entendo da matéria, e agora não tenho como pedir socorro às minhas primas, futuras engenheiras, civil e ambiental.
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Nos mais, para concluir, volto a afirmar que ainda estou duvidoso, quanto a todo este relato. Por isso, peço encarecidamente outra vez, que as pessoas comentem o texto, dizendo se os acontecidos da inauguração se deram ou não.
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Penso que não. Deve ser fantasia da galera, querendo me aprontar uma pegadinha. Afinal, nestes tempos de contenção de despesa, a prefeitura não iria gastar para comemorar a inauguração do calçamento de um pequeno trecho de rua, o valor equivalente a calçar outro pequeno trecho.
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Ao considerar a hipótese surreal do caso ser verídico, lembrei de um dos muitos provérbios que eram ditos por minha vó. “Quando se ver muito peido, é sinal de pouca bosta”.
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“Obrar”, em outras palavras, relatar suas “obras” é prática preferida de muitos políticos. Enquanto eles “obram” o povo vai perdendo a fé. Se antes tinham fé e não sabiam “fé em que”, agora pedem apenas que se dê fé cá. Porque lá, entre os governantes, tudo é fé-licidade.
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P.S. – Sugestões, encaminhamentos e comentários também podem ser enviados para: robertoirara@yahoo.com.br . Para comentar nesta página, clique em “comments”.
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